Afrodite inclui-se na categoria muito própria de Deusa Alquímica, uma designação adequada ao processo mágico ou poder transformador que só Ela tinha.
Na mitologia grega, Afrodite era uma presença reverenciada e temida, que levava os mortais e as divindades (à excepção das três deusas virgens) a apaixonarem-se e a criarem vida. Embora possua algumas características em comum tanto com as deusas virgens como com as deusas vulneráveis, não pertence a nenhum dos grupos.
Afrodite, a deusa que teve mais ligações sexuais, não era definitivamente uma deusa virgem, apesar de se parecer com Ártemis, Athena e Héstia pelo facto de fazer apenas o que lhe agradava. Também não era uma deusa vulnerável, embora se assemelhasse a Hera, Deméter e Perséfone pelo facto de se ligar a divindades do sexo masculino e/ou ter filhos. Todavia, ao contrário dessas deusas, Afrodite nunca foi vítima da paixão indesejada dum homem por ela. Valorizou a experiência emocional com outros mais do que a independência em relação a eles (que movia as deusas virgens) ou os laços permanentes com outros, que caracterizam as deusas vulneráveis.
Enquanto deusa alquímica, Afrodite apresenta algumas semelhanças com as outras duas categorias, apesar de ser intrinsecamente diferente de ambas. Para Afrodite as relações são importantes, mas não enquanto compromissos a longo prazo com outras pessoas (que caracterizam as deusas vulneráveis).
Afrodite procura consumar relações e gerar nova vida. Esse arquétipo pode ser expresso por meio de relações físicas ou de um processo criativo.
O que Ela procura difere do que procuram as deusas virgens, mas Afrodite assemelha-se a elas pelo facto de ser capaz de se focar no que é pessoalmente significativo para Ela; os outros não a conseguem fazer desviar do seu objectivo. E, no facto de o que Ela valoriza ser unicamente subjectivo e não poder ser medido em termos de êxito ou reconhecimento, Afrodite é, paradoxalmente, mais semelhante à anónima e introvertida Héstia que, à superfície, é a Deusa menos parecida com Afrodite.
Qualquer pessoa ou qualquer coisa que Afrodite imbua de beleza é irresistível. Ocorre uma atração magnética entre as pessoas, uma “química”, surgindo um desejo de união acima de tudo. As pessoas sentem um desejo irresistível de se aproximarem, de terem relações, de consumarem a união – ou de “se conhecerem” uma à outra, no sentido bíblico da expressão. Embora essa necessidade possa ser puramente sexual, o impulso é muitas vezes mais profundo, representando uma necessidade tanto psicológica como espiritual. Ter relações é sinónimo de comunicação ou comunhão, consumar pode significar um forte desejo de plenitude ou perfeição, união significa ambas as pessoas fundirem-se numa só e conhecer é realmente compreenderem-se mutuamente. É o desejo de conhecer e de ser conhecida/o que Afrodite gera.
Se conduz à intimidade física, esse desejo pode ser seguido de fecundação e de nova vida. Se a união é também, ou é tão-somente, entre as mentes, os corações ou os espíritos, observa-se um novo desenvolvimento nas esferas psicológicas, emocionais ou espirituais. Quando Afrodite influencia uma relação, o seu efeito não se limita aos aspectos românticos ou sexuais. O amor platónico, a ligação das almas, a amizade profunda, a harmonia ou a compreensão empática são expressões de amor. Sempre que há crescimento, melhoria na compreensão, desenvolvimento do potencial ou estímulo à criatividade (como pode acontecer nas actividades de tutoria, aconselhamento, educação, direção, ensino, psicoterapia), lá está Afrodite, afectando ambas as pessoas envolvidas.
A CONSCIÊNCIA DE AFRODITE
A qualidade de consciência associada a Afrodite é única. As deusas virgens são associadas à consciência focada e são os arquétipos que permitem às mulheres concentrarem-se no que é importante para elas. A receptividade das deusas vulneráveis equivale à consciência difusa. Afrodite, porém, possui uma qualidade de consciência muito própria, a “consciência de Afrodite”. É focada, embora receptiva; semelhante consciência não só capta aquilo a que presta atenção como é afectada por isso.
A consciência de Afrodite é mais focada e intensa do que a consciência difusa das deusas vulneráveis. Porém, é mais receptiva e atenta àquilo em que se foca do que a consciência focada das deusas virgens. Por conseguinte não é nem um candeeiro de sala, que ilumina e faz brilhar suavemente tudo o que se encontra no seu raio de alcance, nem um holofote ou um raio laser.
Para Jean Shinoda Bolen, a consciência de Afrodite é semelhante às luzes de teatro que iluminam o palco. O que observamos sob estas luzes da ribalta, acentua, dramatiza ou amplia o impacto que a experiência tem sobre nós. Captamos e reagimos ao que vemos e ouvimos. Essa iluminação especial permite que sejamos transportad@s emocionalmente durante uma sinfonia ou que sejamos tocad@s por uma peça ou pelas palavras dum orador; os sentimentos, as impressões dos sentidos e as memórias brotam de nós em reação ao que vemos e ouvimos. Em contrapartida, as pessoas que estão no palco podem sentir-se inspiradas por uma audiência e estimuladas pela relação que sentem que se está a estabelecer. O que se encontra sob as “luzes da ribalta” absorve a nossa atenção. Somos atraídas/os sem esforço para o que vimos e sentimo-nos descontraídas/os na nossa concentração. Seja o que for que vejamos sob a luz dourada da consciência de Afrodite, torna-se fascinante: o rosto ou o carácter duma pessoa, uma ideia sobre a natureza do universo ou a transparência e forma duma peça de porcelana.
Quem se tenha apaixonado por uma pessoa, um lugar, uma ideia ou um objeto, foca-se neles e capta-os com a consciência de Afrodite. Porém, nem todas as pessoas que usam a consciência de Afrodite estão apaixonadas. A forma “apaixonada”, típica de Afrodite, de prestar atenção a outra pessoa, se ela é fascinante e bela, é característica das mulheres que personificam o arquétipo e é uma maneira natural de relacionamento e de recolha de informações para muitas mulheres (e homens) que gostam de pessoas e focam toda a sua atenção nelas de uma forma intencional.
ma mulher assim apreende as pessoas da mesma forma que um conhecedor de vinhos presta atenção às características dum vinho interessante e desconhecido e se apercebe delas. Para apreciar plenamente a metáfora, imaginemos um entusiasta de vinhos a gozar o prazer de se familiarizar com um vinho desconhecido. Ergue o recipiente contra a luz para observar a cor e a transparência do vinho. Inala o bouquet e sorve lentamente um golo para captar o carácter e a suavidade do vinho; chega a saborear o travo que fica na boca. Porém, seria um erro partir do princípio de que a “atenção afectuosa” e o interesse que revela pelo vinho significam que esse vinho em particular é especial, valorizado ou mesmo apreciado.
Trata-se do erro que as pessoas cometem frequentemente quando reagem a uma mulher com a consciência de Afrodite. Expostas ao brilho do seu foco, sentem-se atraentes e interessantes à medida que ela as estimula e reage com afeto ou apoio (em vez de com avaliações ou críticas). É o seu estilo de se envolver genuína e momentaneamente com seja o que for que a interesse. O efeito sobre a outra pessoa pode ser sedutor e enganoso, se a sua maneira de interagir dá a impressão de que está fascinada ou enamorada, quando não é esse o caso.
CONSCIÊNCIA, CRIATIVIDADE E COMUNICAÇÃO DE AFRODITE
Jean Shinoda Bolen refere que descobriu a consciência de Afrodite quando compreendeu que nem a “consciência focada” nem a “consciência difusa” descreviam o que ela própria fazia no seu trabalho de psicoterapeuta.
Ao estabelecer a comparação com artistas e escritores, apercebeu-se de que, no trabalho criativo, funcionava um terceiro modo, que passou a denominar “consciência de Afrodite”. “Numa sessão de terapia, reparei na ocorrência de vários processos em simultâneo. Estou absorta a escutar o meu doente, que tem toda a minha atenção e compaixão. Ao mesmo tempo, a minha mente está ativa, estabelecendo associações mentais com aquilo que ouço. Ocorrem-me coisas que já sei sobre a pessoa: talvez um sonho passado, informações sobre a família, um incidente anterior ou acontecimentos correntes na sua vida que podem estar relacionados. Às vezes surge uma imagem ou uma metáfora. Posso ainda ter uma reação emocional, quer ao material quer à forma como é expresso, reação essa que anoto. A minha mente trabalha ativamente, mas de uma forma recetiva, estimulada pelo facto de estar absorta na outra pessoa (…).”
A consciência de Afrodite está presente em todo o trabalho criativo, incluindo naquele que se realiza na solidão. O diálogo da “relação” processa-se pois entre a pessoa e o trabalho, do qual emerge qualquer coisa nova. É uma troca entre o artista e a tela e o resultado é a criação de qualquer coisa que antes não existia.
Fonte: Jean Shinoda Bolen, AS DEUSAS EM CADA MULHER, Planeta Editora
Imagens: altar de Afrodite
Alexander Rokoff
Vénus Verticórdia, Dante Gabriel Rosseti
Afrodite Urânia, Christian Griepenkerl
Herman Smorenburg
Laurie Blank
ma mulher assim apreende as pessoas da mesma forma que um conhecedor de vinhos presta atenção às características dum vinho interessante e desconhecido e se apercebe delas. Para apreciar plenamente a metáfora, imaginemos um entusiasta de vinhos a gozar o prazer de se familiarizar com um vinho desconhecido. Ergue o recipiente contra a luz para observar a cor e a transparência do vinho. Inala o bouquet e sorve lentamente um golo para captar o carácter e a suavidade do vinho; chega a saborear o travo que fica na boca. Porém, seria um erro partir do princípio de que a “atenção afectuosa” e o interesse que revela pelo vinho significam que esse vinho em particular é especial, valorizado ou mesmo apreciado.
Trata-se do erro que as pessoas cometem frequentemente quando reagem a uma mulher com a consciência de Afrodite. Expostas ao brilho do seu foco, sentem-se atraentes e interessantes à medida que ela as estimula e reage com afeto ou apoio (em vez de com avaliações ou críticas). É o seu estilo de se envolver genuína e momentaneamente com seja o que for que a interesse. O efeito sobre a outra pessoa pode ser sedutor e enganoso, se a sua maneira de interagir dá a impressão de que está fascinada ou enamorada, quando não é esse o caso.
CONSCIÊNCIA, CRIATIVIDADE E COMUNICAÇÃO DE AFRODITE
Jean Shinoda Bolen refere que descobriu a consciência de Afrodite quando compreendeu que nem a “consciência focada” nem a “consciência difusa” descreviam o que ela própria fazia no seu trabalho de psicoterapeuta.
Ao estabelecer a comparação com artistas e escritores, apercebeu-se de que, no trabalho criativo, funcionava um terceiro modo, que passou a denominar “consciência de Afrodite”. “Numa sessão de terapia, reparei na ocorrência de vários processos em simultâneo. Estou absorta a escutar o meu doente, que tem toda a minha atenção e compaixão. Ao mesmo tempo, a minha mente está ativa, estabelecendo associações mentais com aquilo que ouço. Ocorrem-me coisas que já sei sobre a pessoa: talvez um sonho passado, informações sobre a família, um incidente anterior ou acontecimentos correntes na sua vida que podem estar relacionados. Às vezes surge uma imagem ou uma metáfora. Posso ainda ter uma reação emocional, quer ao material quer à forma como é expresso, reação essa que anoto. A minha mente trabalha ativamente, mas de uma forma recetiva, estimulada pelo facto de estar absorta na outra pessoa (…).”
A consciência de Afrodite está presente em todo o trabalho criativo, incluindo naquele que se realiza na solidão. O diálogo da “relação” processa-se pois entre a pessoa e o trabalho, do qual emerge qualquer coisa nova. É uma troca entre o artista e a tela e o resultado é a criação de qualquer coisa que antes não existia.
Fonte: Jean Shinoda Bolen, AS DEUSAS EM CADA MULHER, Planeta Editora
Imagens: altar de Afrodite
Alexander Rokoff
Vénus Verticórdia, Dante Gabriel Rosseti
Afrodite Urânia, Christian Griepenkerl
Herman Smorenburg
Laurie Blank
Texto e imagens retirados na íntegra:
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